quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ser Transmontano = qualidade certificada

O Bairrismo, quando sinónimo de nacionalismo saudável, é uma virtude agradecida. A par dos meus muitos defeitos – e convictamente os reconheço – presumo ter aquela virtude. Ou seja: sou (ou procuro ser) um Transmontano de fibra. Às vezes apetece-me escrever, denunciar, agredir (pela palavra). Mas ocorre-me logo: é transmontano! Seja pessoa, animal, ou simples produto. E, em tom jocoso, ainda cultivo o «ser transmontano de Barroso», igual a transmontano perfeito.
Já travei muitas polémicas, com gente de vários quadrantes geográficos, sociais e políticos. Nunca cortei relações no trato, porque como um meu «biógrafo», disse: tenho o condão de fazer amigos pela palavra oral, quando os crio pela palavra escrita.
Faço este intróito para confessar aos meus leitores que tenho um enorme orgulho em ter nascido em Trás-os-Montes. E até já um dia escrevi que talvez hoje fosse um parasita se não tivesse nascido na Região em que vim ao mundo e não tivesse, como tantos, que atravessar o mar de todas as barreiras, com que a maior parte dos Transmontanos se confrontam quando nascem e se criam.
Tudo isto para dizer o quê?
Que fiquei muito pesaroso pela morte, em 2 de Maio último, de Raul dos Santos Morais. Nasceu em Izeda, em 1947. Foi quase tudo naquela vila que muito lhe ficou a dever: desde os Bombeiros, a membro da Junta de Freguesia, a arauto de bondade e deste mesmo sentimento do orgulho de ser Transmontano. Também a director do jornal A Sineta que criou e dirigiu, durante 17 anos e do qual saíram 209 edições. Só o vi uma vez mas foi o bastante para o fixar, como uma referência a seguir. Izeda soube reconhecer o muito que fez por ela a ergueu-lhe, com o apoio da Câmara de Bragança, uma Casa de cultura com o seu nome. Foi um socialista como eu penso que seria bom todos fossem: fazer da nossa Terra e das nossas Gentes, o primeiro partido das nossas paixões. Não pude estar no funeral. Mas fica aqui a minha eterna gratidão transmontana e a minha maior admiração intelectual.
Leio na hora em que escrevo esta nota, no Jornal de Matosinhos, que Edgar Carneiro, natural de Chaves e radicado em Espinho, onde sempre leccionou, acaba de completar 96 anos, continuando a colaborar em «Noites de Poesia», programa radiofónico. É pai de um grande e saudoso poeta e Jornalista: Eduardo Guerra Carneiro. E foi irmão de três outros distintos Flavienses: Francisco, Luís e Mário Carneiro. Os três mais novos já partiram. O mais velho ainda cá o temos, felizmente. Todos merecem, como o Francisco, o nome da toponímia.
Manuel António Pereira é filho do talentoso Flaviense Dr. Henrique António Pereira (Vila Nova de Monforte). Também como o Pai se licenciou em História, esteve em Angola e fixou residência na área da Grande Lisboa, onde exerceu, com grande brilhantismo, tal como na escrita sempre o fez, em prosa e verso, o ensino. Semanalmente colabora em diversa imprensa. E há dois anos publicou dois recomendáveis volumes sobre a Feira dos Santos em Chaves. Em Abril último publicou Mosaicos da Minha Saudade - Lisboa, o Fado & Esparsos, onde passeia o seu estilo apurado, a sua sensibilidade humana, o seu amor aos outros que são todos aqueles que na vida, como ele, procuram servir sem se servir. Um benemérito do altruísmo, da gratidão, da solidariedade. Devo-lhe imensas atenções, neste e noutros livros e em jornais. Não nos conhecemos pessoalmente. Bastou-me conhecer seu Pai, um Transmontano e um Português com obra intelectual bastante para ser perpetuado. Chaves deverá registar este tipo de pessoas, cada vez mais raras.
O célebre Padre Fontes, tão conhecido como o melhor presunto do mundo, acaba de ser justiçado como seu nome no núcleo sede do Ecomuseu de Barroso, a inaugurar no próximo dia 9, feriado Municipal de Montalegre. Um verdadeiro acto de justiça para com um dos maiores embaixadores de Barroso.José Dias Baptista, ex-inspector do Ensino e membro activo de uma plêiade de escritores contemporâneos vai apresentar, dia 22, mais um livro, desta vez sobre as Invasões Francesas. Tem já outros, sobre temática diversa, em fila espera. Parabéns!
Bento da Cruz também vai apresentar, nos próximos dias mais um volume dos seus conhecidos Prolegómenos, editoriais de gabarito do seu Correio do Planalto. António Chaves, outro ilustre Barrosão, residente em Lisboa, talvez seu maior confidente e cúmplice naquilo que de bom a solidariedade telúrica comporta, vai ser o apresentador. É da sua autoria o «guião» de um pequeno filme biográfico a apresentar na mesma altura.
Na última semana tive o ensejo de falar de mais três barrosões que nos últimos tempos publicaram obra digna de registo. Esta pujança criativa é consequência do surto da qualidade certificada que a geração que nos precedeu proporcionou a Trás-os-Montes e Alto Douro, a exemplo de outras zonas do interior do país. E isto faz-me confessar que regionalizar, numa altura em que Trás-os-Montes está regionalizada não será a melhor forma de desenvolver. Eu gosto muito do Minho, onde vivo e onde partilhei metade de minha vida. Mas reconheço que Minho e Trás-os-Montes sempre foram e deverão ser apenas leais amigas, como regiões de Entre-Douro e Minho. Mas não na identidade antropológica e etnográfica.
Crónica de Barroso da Fonte in http://www.avozdetrasosmontes.com/

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