sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O despertar do “país sonolento”: contributo das feiras de produtos locais para um novo projecto de desenvolvimento territorial

Com base nos dados do último censo, João Ferrão (2001) classificou 45% das freguesias portuguesas como “país sonolento”. Grande parte destes espaços encontram-se no interior do país, com particular incidência nas regiões Norte e Centro, correspondendo a territórios com perdas demográficas significativas que se encontram, muitas vezes, num “círculo vicioso de subdesenvolvimento” (Ferrão, 2001). Estes territorios de baixa densidade têm vindo, neste início de século, a dinamizar, com maior ou menor intensidade, processos de transformação indutores de mudanças significativas. Os territórios parecem estar a despertar. Entre as alterações mais visiveis, as feiras de produtos locais estão a contribuir para a criação de uma nova inteligência colectiva. Em torno destes eventos têm sido divulgadas produções, costumes e dialectos, originando o despertar dos territórios e das suas identidades. Funcionando como uma forma de manifestação da cultura popular, de promoção e divulgação do artesanato, da gastronomia, do folclore e dos produtos locais de qualidade, redescobre-se e reconstroiem-se os recursos locais, através da mobilização colectiva. São de certa forma uma montra dos municípios e da região, procurando a valorização dos lugares, das gentes e das produções locais.
A visão nostalgica do campo ganha uma força estratégica que está a “acordar” nos territórios de baixa densidade. Os territórios “sonolentos” estão a dinamizar processos de mudança, criando os novos alicerces para um novo projecto de desenvolvimento territorial. As feiras são apenas um dos sintomas desses processos. Com as feiras locais revaloriza-se o rural (enquanto memória, património e paisagem), através de uma alavancagem a partir das autarquias. Neste âmbito, é necessário aproveitar todos os recursos do território, apostar na identidade do lugar e na identificação do consumidor com o lugar - nas feiras os visitantes procuram uma imagem, uma representação do rural. Isto não significa que as imagens e as representações não estejam a ser reconstruídas.
O tema deste estudo focaliza-se nas feiras de produtos locais realizadas em Trás-os-Montes e Alto Douro. Com base em inquéritos realizados aos visitantes e expositores da feira do fumeiro de Vinhais e da feira da caça e turismo de Macedo de Cavaleiros, este artigo visa avaliar o real significado e importância destes acontecimentos na dinamização das actividades locais e manutenção da população, avaliar a sua visibilidade nos territórios urbanos e a capacidade de atracção de visitantes de fora do concelho e de fora da região/país, bem como a avaliação dos seus impactos. Apresenta-se uma analise detalhada dos resultados dos inquéritos realizados, os quais indiciam que estes eventos funcionam como um novo espaço de relacionamento urbano-rural, contribuindo para valorizar “novas actividades” em espaço rural, tendo grande importância na divulgação e venda dos produtos regionais por parte dos expositores locais. Finalmente, refira-se o peso dos visitantes com formação superior, sendo a área de influência destes eventos relativamente grande, com visitantes de várias partes do país e do estrangeiro.

Resumo de artigo a apresentar no VII Congresso de Geografia Portuguesa em Novembro de 2009.