sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vidago - Freguesia tendencialmente regressiva

CARACTERIZAÇÃO
A freguesia de Vidago localiza-se no sector Sul do concelho de Chaves, a SW da sede de concelho, sensivelmente entre a cidade de Chaves e as vilas de Vila Pouca de Aguiar e Boticas.
A freguesia encontra-se em zona de vale e pertence à unidade de paisagem Veiga de Chaves, tendo clima de zona de transição. Ocupa uma superfície de 639ha, que representa uma densidade populacional de 186hab/ km2. Integra o aglomerado e vila de Vidago.A freguesia atingiu o máximo populacional em 1960 (1712 habitantes), a partir da qual registou uma diminuição significativa da população, perdendo 526 habitantes entre 1960 e 2001 (-31%), contudo na década de 70 aumentou 16% a população residente. Em 2001, tem 1186 habitantes, representando os residentes entre os 15 e 64 anos cerca de 65% da população, tendo diminuído os jovens e aumentado os idosos, resultando no aumento do índice de envelhecimento.
Cerca de 17% da população não tem qualquer nível de instrução, tendo 36% o 1º ciclo e 24% têm instrução acima do 3 ciclo.
Embora as famílias clássicas tenham diminuído (-3%), os alojamentos (49%) e os edifícios (48%) aumentaram significativamente.A freguesia é servida pelo IP3/A24, por vias nacionais e municipais, encontrando-se a 25 minutos da sede de concelho, a 37 minutos da cidade de equilíbrio regional e a 81 minutos da aglomeração metropolitana do Porto.
Existe rede de transportes local e nacional / regional e uma praça de táxis, não estando esta população numa situação periférica.A freguesia dispõe de vários equipamentos de ensino, acção social e saúde, tendo comércio variado e serviços de índole diversa.
Apresenta uma nula carência de funções não especializadas e um índice de marginalidade muito fraco.A população activa representa 42% dos residentes, estando, em 2001, 426 indivíduos empregados, sobretudo no sector terciário (75%), enquanto 73 indivíduos se estavam desempregados, sobretudo à procura de novo emprego. Em 2005, 357 indivíduos estavam empregados por conta de outrem, evidenciando a empregabilidade existente.
A população agrícola diminuiu (-46%), bem como o seu peso na população total, representando 12% da população residente. Também os produtores diminuíram (-33%), sendo os rendimentos de 48% dos produtores principalmente exteriores à actividade agrícola, existindo apenas 3 produtores com rendimentos exclusivos da agricultura. As explorações diminuíram (-33%), bem como a área média das explorações, na sua maioria cultivada por conta própria (92%). A SAU diminuiu (-37%), em particular na terra arável e nas culturas temporárias. As culturas permanentes também diminuíram (-25%), contudo representam 70% da SAU, tendo aumentado a área de matas e florestas (1%). Existem muito poucos efectivos animais, em virtude do crescente abandono agrícola.
A floresta diminui em virtude de incêndios florestais ocorridos, contudo representa 25% do solo da freguesia. Aumentou a vegetação arbustiva e herbácea, as culturas permanentes e as zonas agrícolas heterogéneas que é o uso predominante (32,9%).

ANÁLISE
A freguesia ficou marcada pela descoberta das águas termais em 1863 por um lavrador da localidade, embora seja referenciado que Vidago tenha sido uma estância termal no tempo dos Romanos. Foi a partir da redescoberta das águas que se deu o desenvolvimento da localidade, com o surgimento de vários hotéis e pensões, registando um crescimento significativo até meados do século passado. Com o declínio das termas, inicia-se a emigração na freguesia, nomeadamente na década de 60, sobretudo para França e Alemanha e para o sector da construção civil, mas também para as ex-colónias africanas, nomeadamente para a produção e comercialização de café. De acordo com Floripo Salvador (2004, p.69), “a vila não ficará também indissociável do fenómeno da emigração clandestina para a Europa pois era um ponto de passagem de muita gente que ia à procura de uma vida melhor, chegando a funcionar como uma espécie de quartel-general onde batalhões de pessoas chegavam disfarçadamente pela calada da noite”, chegando a “devorar a comida que os passadores lhe haviam providenciado, junto das pensões e tabernas locais”. Na década de 70, com o encerramento do balneário termal verificou-se um grande abandono de população que saiu à procurou de emprego, na sua maioria para o estrangeiro (França e Alemanha) mas também para o litoral do país, sobretudo para a região do Porto, contudo o regresso de emigrantes das ex-colónias permitiu suavizar o abandono populacional, tendo regressado cerca de 10 pessoas naturais da freguesia, mas o crescimento da freguesia deveu-se à instalação em duas unidades hoteleiras da vila de várias famílias provenientes das ex-colónias africanas, estimando-se em mais de 200 imigrantes, que permaneceram na freguesia sensivelmente entre 1975 e o início da década de 80, sendo subsidiados pelo Instituto de Apoio ao Retorno dos Nacionais (IARN).
Durante a década de 80 os hotéis voltariam a funcionar, embora fossem muito mal aproveitados, mantendo-se o fluxo emigratório na freguesia, embora em menor proporção ao registado nas décadas anteriores, nomeadamente para os EUA (onde o concelho de Chaves tem tradição no destino da emigração), Suíça e Luxemburgo, uma grande parte para trabalharem na hotelaria, tendo em conta a experiência que muitos residentes já tinham nesse ramo, mas também para a construção civil, nomeadamente no Luxemburgo e nos EUA. Na década de 90, a emigração continua a ter impacto na diminuição populacional, tendo como destinos preferenciais a Suíça e Luxemburgo, mas também França e Alemanha. O abandono de população jovem também se faz sentir para as principais cidades do litoral do país (Porto, Braga, Lisboa), derivado da entrada no ensino superior. Desde a década de 90, a contrapor ao abandono da população mais jovem, tem-se verificado o regresso de emigrantes, nomeadamente dos EUA donde regressaram mais de 50 pessoas, que tem vindo a aumentar crescentemente o envelhecimento da população, contudo o número de nascimentos no últimos anos (média de 20 por ano) foi superior ao número de óbitos (média de 15 por ano), prevendo-se, a médio prazo, um rejuvenescimento da população com a atracção de jovens para a freguesia. não só de emigração se caracterizou a freguesia, também de imigração, “existindo uma componente muito forte de gente oriunda do exterior periférico e não só”, instalando-se “com actividades comerciais que se têm vindo a multiplicar através de várias gerações”, existindo “muitas famílias que adoptaram Vidago como a sua terra e jamais a abandonaram” (Salvador, 2004, p. 69 e 70).
É ao longo da década de 90 que o balneário e as termas atingem o seu pior período, tendo sido vendidos por três vezes, em que todos os proprietários prometiam grandes investimentos, mas apenas recentemente se iniciaram os investimentos para a sua recuperação. Com a agricultura muito pouco atractiva, a esperança da freguesia é mesmo a requalificação que está a ser feita em termos de oferta turística, com investimentos de mais de 6 milhões de euros no Palace Hotel e infra-estruturas associadas (projecto considerado PIN), que virão trazer um maior dinamismo ao aglomerado, quer em termos de criação de emprego, quer na atracção de turistas. Nesse sentido, a junta de freguesia e a câmara municipal estabeleceram um acordo com a empresa proprietária do balneário termal no sentido de ceder a água para um balneário alternativo para a classe média e média/baixa que será construído pela câmara municipal, de modo a permitir uma maior atractividade turística, oferecendo valências pouco frequentes em outras zonas termais e terá uma escola de formação para a área termal, beneficiando do apoio de um professor de reconhecido mérito no termalismo. Embora a freguesia não tenha capacidade financeira tem, em colaboração com a câmara municipal, apostado no reforço, manutenção e melhoria dos serviços públicos, salientando-se a construção de um novo Posto da GNR permitiu manter os agentes e família), a construção de um novo centro de saúde de modo a evitar o seu encerramento, e a construção da EB2/3, onde trabalham mais de 100 pessoas (professores e funcionários). As autarquias têm procurado manter os equipamentos públicos, de modo a potenciar um maior investimento privado, no sentido de contrair o abandono populacional, tendo recentemente sido criada uma empresa para prestar apoio aos residentes e potenciais investidores para as candidaturas ao QREN, de modo a promover uma melhoria da oferta turística, sendo a estância termal de Vidago uma da prioritárias nos apoios financeiros.
A rede viária apresenta-se em boas condições e ajustada às necessidades da população, tendo sido fortemente melhorada com a abertura do IP3/A24 que veio melhorar as acessibilidades da freguesia, beneficiando directamente com o nó de acesso à Vila, embora apenas quando o turismo tiver todas as intervenções concluídas se preveja uma maior atractividade, nomeadamente para os 2 campos de golf que estão a ser construídos (1 do hotel e 1 da Escola de Golf de Vidago, que há foi campeã nacional de Golf). A freguesia sempre esteve bem servida em termos de infra-estruturas de transportes, em resultado da passagem da EN2 e da existência de autocarros de transporte, bem como da existência de uma estação ferroviária da linha de caminho-de-ferro que ligava Chaves a Vila Real, sendo um meio de transporte muito utilizado pela população até ao seu encerramento. Após o encerramento a vila sempre esteve servida por transporte público, contudo o automóvel individual tornou-se no principal meio de transporte da população. A distância da sede de concelho permitiu manter um maior dinamismo, tendo em conta que a vila se tornou no principal pólo urbano de toda a zona sul do concelho (denominada Ribeira de Oura, onde residem actualmente cerca de 7000 pessoas mas chegaram a residir cerca de 15000 habitantes), sendo referência em termos de oferta de bens e serviços para 13 freguesias e 30 aglomerados rurais, realizando-se mesmo uma feira semana para servir a população de todos estes aglomerados mais próximos.
Em termos da vida económica local, o sector primário após a descoberta das águas deixou de ser o sector de ocupação da população da freguesia, contudo manteve sempre alguma importância na economia local. Porém, nos últimos anos tem vindo a diminuir significativamente a sua importância, existindo cada vez menos famílias com rendimentos exclusivos da agricultura, denotando-se um crescente abandono. Actualmente, são menos de 100 pessoas que ainda se dedicam à agricultura, na sua maioria como segunda actividade, sendo as explorações caracterizadas na sua maioria por minifúndios, existindo poucas propriedades com rentabilidade. A freguesia tem como principais culturas agrícolas os produtos hortícolas, a batata, o cereal e a produção vinícola, sendo actualmente o vinho a produção mais rentável, beneficiando da existência da Adega Cooperativa da Ribeira de Oura que comercializa a produção.
O sector secundário ainda é um dos principais pilares da economia local, devido às águas minero-medicinais, embora o engarrafamento de uma das marcas tenha sido transferido para Pedras Salgadas. Em meados do século XX, cerca de metade da população da freguesia estava empregada no engarrafamento das águas, enquanto actualmente apenas se encontram empregadas cerca de 20 pessoas, tendo uma das fábricas transferido o engarrafamento para Pedras Salgadas, tendo sido transferidos também alguns trabalhadores, contudo actualmente apenas 5 ainda se encontram lá empregados. A construção civil tem sido dinamizada, em grande medida pelos investimentos dos emigrantes locais, nomeadamente através da construção de habitação própria, empregando cerca de 50 pessoas (só uma empresa emprega cerca de 30 residentes), existindo ainda uma fábrica de mobiliário (10 trabalhadores) e 3 fábricas de alumínio (15 trabalhadores). Por último, no sector terciário, a freguesia encontra-se dotada de alguns serviços públicos, como são os casos de um posto de GNR, uma corporação de bombeiros, uma extensão dos serviços camarários através do posto de atendimento municipal, um posto de atendimento da Segurança Social, o mercado municipal, bem como diversos serviços de saúde, ensino e acção social, empregando cerca de 250 pessoas, sendo mais de metade residentes na freguesia. O turismo ainda emprega uma parte significativa da população, salientando-se que o Palace Hotel emprega cerca de 50 pessoas, prevendo-se que, com a abertura do Hotel SPA, Centro de Congressos, Campo de Golf e Museu – pólo de Serralves, venha a empregar 150 trabalhadores. No comércio, nos cerca de 100 estabelecimentos comerciais existentes, encontram-se mais de 200 trabalhadores, embora a maioria sejam os proprietários e/ou familiares, salientando-se existindo pelo menos 12 pessoas empregadas em 2 supermercados. Também fora do aglomerado se encontram alguns residentes empregados, com particular incidência na cidade de Chaves (cerca de 90%) nomeadamente nos serviços, mas também em Vila Real, Ribeira de Pena e Pedras Salgadas.
A freguesia tem cerca de 1000 fogos, dos quais cerca de 300 são de emigrantes (em particular dos EUA), sendo o número de alojamentos de segunda residência de população residente no país em número reduzido (menos de 10), contudo nos últimos tempos tem-se verificado uma grande procura de casas abandonadas para serem recuperadas por pessoas que residem em cidades do litoral. Durante os próximos 3 anos irá também ocorrer uma grande alteração na freguesia, nomeadamente com a conclusão das obras no Palace Hotel e Campo de Golf até final de 2010, e com a construção do Balneário termal e a requalificação do Hotel Avenida e do Hotel Vidago até final de 2001, prevendo-se um aumento da procura turística, mas também da empregabilidade na freguesia, contribuindo para o aumento da população da freguesia, nomeadamente de população jovem.

IN http://hdl.handle.net/10216/51026

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