sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mourilhe (Montalegre) - uma freguesia continuadamente regressiva

CARACTERIZAÇÃO
Mourilhe é freguesia do concelho de Montalegre, situada no sector Norte do concelho, no limite com Espanha, localizando-se a Noroeste da sede de concelho.
Toda a freguesia se encontra na unidade de paisagem Serras do Larouco e Barroso, em zona de montanha com uma altitude média superior a 1100 metros, tendo clima de terra fria de montanha.
Ocupa uma superfície territorial de 1708ha, tendo 8,4hab/km2 de densidade populacional. Integra os aglomerados de Mourilhe e Sabuzebo.A freguesia atingiu o máximo populacional em 1950 (613 habitantes), a partir da qual registou diminuições significativas da população, em particular nas décadas de 70/81 e 81/91, perdendo 77% da população de 1950 a 2001. Em 2001, tem 144 habitantes, tendo-se registado um aumento significativo dos idosos, que representavam, em 2001, 33% dos residentes, originando com que o índice de envelhecimento seja elevado.
Cerca de 42% da população não tem nenhum nível de instrução, 38% tem o 1º ciclo e apenas 4% tem instrução além do 3 ciclo.
Verifica-se a diminuição das famílias clássicas (-23%), aumentando os alojamentos (13%) e dos edifícios (13%).A freguesia apenas dispõe de vias municipais, encontrando-se a 9 minutos da sede de concelho, a 56 minutos da aglomeração regional, ultrapassando 75 minutos para aceder à cidade de equilíbrio regional.
Não existe rede de transportes local, nem praça de táxis, o que coloca esta população numa situação periférica.A freguesia dispõe de um posto de telefone público, 2 cafés e 2 mercearias, não tendo qualquer equipamento colectivo.
Apresenta uma elevada carência de funções não especializadas e um índice de marginalidade muito forte.
A população activa representa 50% dos residentes, existindo, em 2001, 72 indivíduos empregados, sobretudo no sector primário (60%), não existindo qualquer desempregado. Em 2005, apenas 1 indivíduo se encontrava empregado por conta de outrem, nomeadamente no alojamento e restauração. Embora a população agrícola e o seu peso na população total tenham diminuído, uma parte significativa da população ainda tem ocupação na agricultura (77%).
Os produtores singulares diminuíram (-14%), sendo os rendimentos de 88% dos produtos principalmente das actividades agrícolas.
As explorações diminuíram (-10%), aumentando substancialmente a área média das explorações, devido ao aumento da exploração por conta própria, em particular de área de pastagens.A SAU aumentou (90%), em grande medida derivado da inclusão de várias áreas de pastagem permanente (466ha), diminuindo a terra arável em cultura principal (-28%) e as culturas temporárias em cultura principal (-27%), denotando o abandono das terras e culturas mais exigentes em mão-de-obra.
Embora tenha diminuído, a vegetação arbustiva e herbácea ainda predomina (39,3%), verificando-se um aumento das zonas descobertas (representam 21,7%). As zonas agrícolas heterogéneas (21,1%) e as pastagens (18%) também têm expressão no uso do solo da freguesia.

ANÁLISE
Nos últimos 50 anos, a freguesia ficou fortemente marcada pela diminuição da população, embora tenha havido uma melhoria significativa das condições de vida dos residentes, nomeadamente em termos de infra-estruturas rodoviárias e infra-estruturas eléctricas, de abastecimento de água, condições sanitárias e comunicações, porém, a existência destas infra-estruturas não era a condição principal para a manutenção da população. Verificou-se também uma grande transformação na composição das famílias, que registaram uma grande diminuição do número de elementos, em parte resultante da continuada saída da população residente, nomeadamente dos residentes mais jovens.
A diminuição da população teve como principal factor a emigração para o estrangeiro, sobretudo a partir da década de 60, que foi quando começaram a emigrar as primeiras pessoas da freguesia, nomeadamente os residentes do sexo masculino, que saíram para França pois havia uma grande oferta de trabalho e uma consequente relativa facilidade na sua legalização, com empregabilidade predominante na construção civil e agricultura. Em virtude da emigração de alguns residentes durante a década de 60, na década de 70 intensificaram-se os movimentos migratórios para França, nomeadamente familiares e amigos dos emigrantes que lhes arranjavam empregabilidade, nomeadamente na construção civil, serviços domésticos e limpezas. Também nesta altura ocorreu o abandono de alguns residentes para os Estados Unidos da América. Nas décadas de 80 e 90 também houve muita emigração na freguesia, tendo como destinos França e os Estados Unidos da América, nomeadamente dos familiares dos emigrantes, surgindo a Suíça como destino preferencial da emigração, nomeadamente dos residentes mais jovens, cuja empregabilidade era maioritariamente na construção civil, hotelaria, restauração e limpezas. Embora com pouca representatividade em termos globais, durante os anos 80, também para Inglaterra partiram 2 ou 3 famílias. Desde o ano 2000, a generalidade dos mais jovens quando terminam a escolaridade obrigatória também acabam por emigrar (estima-se que tenham saído cerca de 20 residentes), cujo principal destino tem sido a França. Os poucos jovens que prosseguiram para o ensino superior (Braga e Porto) acabam por não regressaram nem à freguesia nem ao concelho, pois não têm empregabilidade.
Na freguesia existem alguns emigrantes, idosos já reformados, que regressaram (cerca de 12 pessoas), tendo regressado todos à freguesia, dedicando-se ao cultivo das suas propriedades agrícolas, numa agricultura familiar para auto-consumo. A generalidade dos filhos dos emigrantes não voltaram nem pensam em voltar, regressando apenas durante o período de férias (Julho e Agosto), quando a população presente ultrapassa 400 pessoas, pois regressam os emigrantes e as respectivas famílias. O regresso dos emigrantes mais idosos e o abandono dos mais jovens originou um forte envelhecimento na população da freguesia, existindo actualmente menos de 25 residentes com menos de 30 anos, pois número de nascimentos é cada vez menor (existem 7 crianças com menos de 10 anos). O facto de a população estar dividida em dois aglomerado não é considerado influenciador de um maior esvaziamento demográfico, tendo em conta que as pessoas saíram à procura de salários e melhores condições de vida, devido à reduzida empregabilidade e à pouca rentabilidade da agricultura. Nem a freguesia nem o município tem ou teve qualquer estratégia para a manutenção da população, não existindo forma de fixar a população nas aldeias da freguesia.
A rede viária da freguesia é considerada de razoável qualidade, embora existam algumas ruas que se encontram em mau estado ou são muito estreitas, limitando a circulação automóvel. Antigamente as pessoas deslocavam-se a pé ou a cavalo até à sede de concelho que é o principal local onde os residentes locais se deslocam, porém actualmente deslocam-se maioritariamente de automóvel particular, enquanto os residentes que não têm transporte próprio se deslocam à boleia de amigos e familiares ou com recurso ao táxi, pois a freguesia nunca esteve servida por transportes públicos. A curta distância à sede de concelho não teve influência no esvaziamento populacional, porém o elevado tempo de acesso aos principais centros urbanos da região foi determinante na saída da população pois a empregabilidade existente nas proximidades da freguesia era reduzida e muito limitada a trabalhos agrícolas que são muito pouco atractivos para a população jovem.
Na freguesia não se encontra em funcionamento qualquer equipamento colectivo, existindo apenas 2 minimercados e 2 cafés, embora a freguesia seja servida por vendedores ambulantes quer de pão, quer de peixe, carne e fruta, os quais são importantes para a população idosa com maiores dificuldades de deslocação. Os residentes têm de se deslocar à sede de concelho para poderem aceder aos vários equipamentos colectivos e aos vários serviços, públicos e privados, incluindo a generalidade dos serviços e o comércio não alimentar. A igreja e a antiga escola (funciona o bar convívio da associação da freguesia) são espaços ainda muito utilizados pela população, embora a socialização dos residentes seja sobretudo feita nas ruas. A freguesia não está servida por serviços móveis, contudo seriam importantes pois evitariam que os residentes se deslocassem à sede de concelho, em particular para os mais idosos.
Antigamente, alguns residentes tinham empregabilidade na agricultura em 3 ou 4 casas de famílias mais ricas que davam trabalham e pagavam a denominada jorna, existindo também alguns residentes que exploravam propriedades dessas famílias em parceria com os patrões. Também a generalidade dos residentes tratava das suas propriedades, cultivando alguns produtos que serviam de base à sua sustentação, nomeadamente a batata, o milho e o centeio, para além dos vários produtos hortícolas. A criação de bovinos de carne era uma das principais fontes de rendimento dos residentes, nomeadamente através da venda dos vitelos, sendo os animais também muito utilizados nos trabalhos agrícolas. Actualmente, a agricultura continua a ocupar uma grande parte dos residentes, embora não exista pessoas empregadas na agricultura por conta de outrem, trabalhando cada um para si, nas suas propriedades ou nas propriedades de familiares, nomeadamente algumas propriedades dos emigrantes que estão cedidas a terceiros. Os produtores existentes são na sua maioria de média idade ou idosos, sendo a criação de bovinos de carne frequente na generalidade dos produtores pois é a sua principal fonte de rendimento, existindo cerca de 250 bovinos na freguesia, na sua maioria de raça barrosão. O cultivo de batata, milho e centeio têm reduzida expressão em termos de vendas, sendo utilizados maioritariamente na alimentação das famílias e dos animais, enquanto o cultivo de horta familiar é frequente na generalidade das famílias, donde obtêm alguns produtos hortícolas para a sua alimentação. A criação de caprinos também se encontra presente na freguesia, sendo a principal fonte de rendimentos de 3 famílias, existindo também criação de suínos em algumas famílias, nomeadamente para a produção de fumeiro, que é utilizada por algumas famílias para a obtenção de rendimentos complementares, usufruindo da venda na feira de fumeiro realizada na sede do concelho e, em consequência, através da venda directa a particulares que se tornaram clientes fixos dessas famílias. Existem 3 residentes empregados em empresas de construção civil de outras freguesias do concelho, enquanto na sede de concelho trabalham 7 residentes, nomeadamente no comércio e serviços. Os estabelecimentos comerciais são a fonte de rendimento de 2 famílias (minimercados e cafés), enquanto 2 residentes se encontram empregados na unidade de turismo rural existente na freguesia, sendo um elemento fundamental para o turismo da freguesia, nomeadamente ao fim-de-semana e em épocas festivas. De salientar ainda que existem 2 ou 3 casas na freguesia de segunda residência, nomeadamente de pessoas naturais da freguesia que residem em outros locais do país, nomeadamente no Porto e em Braga.
Nos próximos anos, de acordo com as gentes locais, a freguesia ficará mais pobre e cada vez com menos gente pois quem parte não regressa e existem muitos residentes idosos, perspectivando-se que, daqui a 10 anos, existam apenas 80 residentes. Não existe por parte da freguesia e do município uma clara estratégia de dinamização e revitalização, intervindo-se apenas na melhoria das condições de vida dos residentes e prestando apoio aos residentes locais na realização de projectos agrícolas e dos subsídios de apoio à agricultura. Finalmente, é salientado que os apoios prestados dificilmente inverterão a situação de crescente despovoamento, pois é um fenómeno a que não há volta a dar.

IN http://hdl.handle.net/10216/51026

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