sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sendim (Miranda do Douro) - freguesia com dinâmicas recentes positivas

CARACTERIZAÇÃO
A freguesia de Sendim localiza-se no sector Sul do concelho de Miranda do Douro, a SW da sede de concelho, no limite com o concelho de Mogadouro, tendo fronteira com Espanha.
Parte da freguesia está em zona de vale e pertence à unidade de paisagem Douro Internacional e parte em zona de planalto na unidade Planalto Mirandês, tendo clima de terra fria de planalto. Ocupa uma superfície de 3864ha, que representa uma densidade populacional de 37hab/ km2. Integra o aglomerado e Vila de Sendim.A freguesia atingiu o máximo populacional em 1960 (1983 habitantes), em parte devido À construção das barragens, registando oscilação entre décadas de crescimento (1950/60, 1970/81 e 1991/01) e décadas de diminuição (1960/70 e 1981/91). Em 2001, tem 1432 habitantes, sobretudo com idades entre os 15 e 64 anos (68%), tendo os jovens um menor peso (13%) e os idosos uma percentagem maior (19%), resultando no aumento do índice de envelhecimento.
Cerca de 18% da população não tem qualquer nível de instrução, tendo 11% ensino secundário e 9% ensino médio / superior.
As famílias aumentaram ligeiramente (2%), tendo os alojamentos (24%) e os edifícios (21%) aumentado de forma assinalável.A freguesia dista 70 minutos do IP3/A24, sendo servida pela EN221, encontrando-se a 25 minutos da sede de concelho, a 83 minutos do centro urbano estruturante e a 217 da aglomeração metropolitana.
Embora exista rede de transportes local e regional, esta população está numa situação periférica, relativamente a centros urbanos regionais.A freguesia dispõe de ensino até ao 3º ciclo, sendo servida de equipamentos de acção social e de saúde, de vários estabelecimentos de comércio e serviços diversificados.
Apresenta uma nula carência de funções não especializadas e um índice de marginalidade forte.A população activa representa 42,5% da população, grande parte empregue no sector terciário (56%), representando a população inactiva 44% da população residente. Existiam, em 2001, 570 indivíduos empregados e 38 desempregados, em particular mulheres à procura de novo emprego. Em 2005, estavam 166 indivíduos empregados por conta de outrem.
A população agrícola diminuiu (-9%), bem como o seu peso na população total. Por outro lado, os produtores aumentaram (3%), sendo os rendimentos de 89% dos produtores principalmente exteriores à actividade agrícola. As explorações aumentaram (4%), tendo diminuído a área média das explorações, que é explorada na generalidade por conta própria.
A SAU diminuiu (-3%), em particular nas culturas temporárias (-35%) e nas terras aráveis (-46%), tendo aumentado as culturas permanentes (40%) e as matas e florestas (421ha), em resultado do abandono das culturas mais exigentes em mão-de-obra. Não se registaram alterações de uso do solo, sendo as culturas permanentes (41,6%), as zonas agrícolas heterogéneas (20,8%) e as culturas anuais (17,4%) os usos mais representativos. Também se encontra na freguesia o espaço urbano, as pastagens, a floresta, a vegetação arbustiva e herbácea e a superfície com água.

ANÁLISE
Ao longo das últimas décadas, a freguesia ficou marcada pela evolução registada nas condições de vida da população e pela diminuição da população, nomeadamente nas décadas de 1960/70 e 1981/91, derivada da emigração e da diminuição da natalidade. A emigração para o estrangeiro ocorreu maioritariamente na década de 1960, quando uma parte significativa da população saiu da freguesia à procura de melhores condições de vida, nomeadamente para França, Canadá e ex-colónias africanas (Angola e Moçambique), em grande medida derivado da pouca oferta de empregabilidade existente na freguesia. Cerca de 80% da população que emigrou saiu para França, tendo ido trabalhar maioritariamente para a construção civil e para fábricas. Nos anos 80 a população volta a perder população significativamente, contudo a emigração para o estrangeiro teve menor impacto, embora tenham saído algumas pessoas para Espanha, em grande medida devido à proximidade da freguesia e à maior facilidade de regressar. Também neste período várias pessoas saíram da freguesia motivadas pelo prosseguimento dos estudos, nomeadamente para Porto e Lisboa, mas também para outros centros urbanos com ensino superior, acabando por não regressar à freguesia devido à não existência de empregabilidade, regressando apenas esporadicamente em alturas festivas e nas férias. Mais recentemente, a população que abandona a freguesia é em número mais reduzido e é cada vez menos a população que abandona a freguesia tendo como destino um outro país, sendo na generalidade motivados pela continuação dos estudos no ensino superior, e estes jovens que vão tirar o curso superior acabam por vir cada vez mais para perto da freguesia, vindo trabalhar para a freguesia ou para as sedes de concelho próximas.
A década de 70 ficou marcada por um ligeiro crescimento populacional, derivado do regresso de alguns emigrantes de Angola, entre 15 a 20 pessoas, os quais vieram trabalhar para a agricultura e no comércio por conta própria. Também neste período se verificou o regresso de cerca de 5 famílias de França, em grande parte motivados por dificuldades sentidas nesse país, tendo regressado para trabalhar na construção civil e no comércio. Mais recentemente, desde o início da década de 90 já regressaram várias famílias de emigrantes de França, a maioria idosos mas também alguma população jovem que veio trabalhar por conta própria ou como empregados na construção civil e no comércio. As causas das dinâmicas da freguesia foram numa primeira fase a emigração que originou o abandono de muita população devido à inexistência de empregabilidade, saindo à procura de melhores condições de vida. Mais recentemente o crescimento deve-se aos novos residentes de freguesias próximas, os quais têm procurado a existência de um conjunto diversificado de serviços básicos e de funções urbanas na vila, sendo a concentração da população da freguesia num único aglomerado sido determinante para a dinamização da freguesia, em virtude da existência de massa critica para a instalação de vários equipamentos e serviços. O crescimento populacional registado na década de 1991/2001 ficou, em grande parte, a dever-se à atractividade exercida pela freguesia sobre as freguesias mais próximas, tendo várias pessoas dessas freguesias vindo residir para a vila de Sendim, em virtude da existência na freguesia de um conjunto diversificado de serviços e funções, encontrando-se no planalto mirandês, sensivelmente no meio entre 3 concelhos: Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso.
A população actual é de cerca de 900 residentes fixos, uma parte envelhecida mas também existem jovens, a generalidade ainda a estudar, alguns no ensino superior em Bragança (maioria), em Macedo de Cavaleiros, Vila Real, Miranda do Douro, Porto, Coimbra e Lisboa. Vários jovens que terminam o curso superior acabam por arranjar emprego nas cidades onde prosseguem os estudos, mas quando arranjam emprego nas proximidades regressam à freguesia, devido ao forte sentimento de identificação com a terra. Embora diminuído nos últimos anos, anualmente registam-se, em média, entre 12 e 15 nascimentos, tendo a freguesia perspectivado a implementação de medidas de apoio à natalidade. No Verão regressa muita gente, duplicando a população, nomeadamente os emigrantes e os filhos que vêm passar as férias, mas também na altura do Natal e da Páscoa, muitos emigrantes e a generalidade da população que reside e trabalha no Porto, em Lisboa e noutras cidades do país, regressam à freguesia, existindo entre 30 e 40 casas de 2ª residência.
A rede viária existente é de razoável qualidade, sendo suficiente para suprir as necessidades de deslocação da população, embora seja considerado necessário a melhoria da ligação de Mogadouro a Macedo de Cavaleiros e da freguesia até Bragança, embora a inexistência de vias fundamentais não seja considerado um elemento influenciador do abandono da população. Antigamente a população deslocava-se através dos transportes públicos, existindo também que se deslocasse a pé ou através dos animais até à sede de concelho. Também o transporte ferroviário serviu a freguesia, nomeadamente o ramal do Vale do Sabor, que fazia a ligação entre Pocinhos e Duas Igrejas, tendo a construção terminado em 1938, que não chegaria a atingir o seu destino último (Miranda do Douro). A construção deste ramal (via estreita) teve a intenção de cumprir dois objectivos fundamentais: o transporte do minério de ferro das minas de Reboredo e o fim do isolamento da região situada entre Miranda do Douro e Mogadouro, no entanto a linha encerrou ao tráfego em 1988. Com o encerramento da linha de caminho-de-ferro e a generalização do automóvel, a população começou-se a deslocar maioritariamente de transporte individual, embora ainda existam transportes públicos que são cada vez menos utilizados. O facto de a freguesia estar desviada da sede de concelho não teve influência na dinâmica de regressão, pois permitiu o surgimento de um conjunto de equipamentos e serviços que a dinamizaram e tornaram mais atractiva, permitindo a captação de novos residentes. A freguesia dispõe também de vários estabelecimentos comerciais, tendo aumentado nos últimos anos. É servida por Cafés, minimercados, padarias, talhos e estabelecimentos de vestuário, de calçado, de electrodomésticos, entre outros. Para além dos equipamentos de ensino (até ao 3º ciclo), sociais (idosos e jovens), de saúde, de cultura e de desporto, salienta-se a presença de vários serviços, nomeadamente 3 agências bancárias.
A agricultura antigamente ocupava cerca de 80% da população da freguesia, sendo as produções mais características o trigo, o vinho, o azeite e os produtos hortícolas. Nos anos 50, existia uma fábrica de calçado que empregava 50 pessoas, sendo o comércio praticamente inexistente. Actualmente, em termos económicos, refira-se que o sector primário ainda continua a ter uma forte importância para a economia local, destacando-se a produção de vinho e de azeite, destinando-se a produção essencialmente a auto-consumo, embora existia produção vinícola de qualidade para comercialização, beneficiando da existência da adega cooperativa (Adega Cooperativa de Ribadouro) que tem fomentado e incentivado uma maior produção vinícola. Salienta-se ainda que tem existido um grande investimento de jovens agricultores, especialmente na bovinicultura, de leite e carne, sendo as explorações de maior dimensão existentes na freguesia. Contudo cada vez mais a agricultura é feita ao fim de semana, servindo de complementaridade aos rendimentos obtidos em outras actividades. Salienta-se a empregabilidade em 6 empresas de construção civil da freguesia (40 pessoas), em 4 armazéns de materiais de construção (10 pessoas), na cooperativa agrícola (10 pessoas), na cooperativa olivícola (6 pessoas durante 2 meses), nas escolas (15 pessoas), nos bombeiros (10 pessoas), no lar de idosos e centro de dia (15 pessoas), nas oficinas de reparação automóvel (8 pessoas), nas agências bancárias (6 pessoas), estando ainda cerca de 40 pessoas empregadas no comércio e 15 pessoas em outros serviços (estação de correios, farmácia, gabinetes de contabilidade). Refira-se ainda que cerca de 20 residentes estão empregados nos serviços e comércio em Mogadouro e Miranda do Douro, estando 5 pessoas empregues nas fábricas de Palaçoulo. O sector secundário está ainda representado por uma fábrica de transformação de granitos que emprega 10 residentes. Relativamente ao turismo, salienta-se que assume uma importância crescente, em particular no Verão, existindo 2 hotéis e 2 hospedarias, beneficiando a freguesia do facto de estar inserida no Parque Natural do Douro Internacional, sendo rica em paisagem natural, permitindo ao turista desfrutar das Arribas do Douro e da respectiva fauna e flora. O património arquitectónico, com particular destaque para a Igreja do século XIV, a riqueza e diversidade das tradições existentes, nomeadamente o Festival Intercéltico, a dança dos Pauliteiros, os grupos de cantares, as associações culturais e desportivas, o artesanato e a gastronomia (a posta Mirandela é o prato mais característico) são elementos diferenciadores da freguesia, que para além de dinamizarem actividades culturais e recreativas, são importantes factores de atractividade de visitantes. A floresta tem vindo a aumentar nos últimos anos, em resultado a florestação levada a cabo no âmbito de projectos financiados por fundos comunitários, nomeadamente em terrenos onde antigamente era produzido o cereal.
Segundo a população local, nos próximos anos a freguesia vai manter a população residente, sendo a saída de estudantes colmatada pelo regresso de emigrantes do estrangeiro e dos grandes centros urbanos, sendo a estratégia da freguesia apoiar e colaborar em todos os eventos realizados na freguesia, prevendo ainda a criação de uma zona empresarial, de um loteamento social e de um parque infantil.

IN http://hdl.handle.net/10216/51026

Sem comentários: