terça-feira, 3 de junho de 2008

Mudança no contraste e nas relações rural - urbano

Os contrastes rural-urbano modificaram-se nas últimas décadas por efeito de um conjunto de factores: a desconcentração de actividades industriais, a descentralização de algumas funções urbanas, a dispersão de serviços e equipamentos sociais, a proliferação das tecnologias de comunicação.

A mobilidade profissional, social, residencial e geográfica aumentou mas evoluiu segundo trajectórias diferentes. Na década de setenta o abrandamento dos fluxos migratórios para as metrópoles traduziu-se numa inversão de tendências anteriores, que não se verificou, contudo, no Sul da Europa o afluxo continuou. Este processo de contraurbanização não se manteve na década de oitenta e as grandes cidades e metrópoles retomaram a sua capacidade de atracção. Além do vector desenvolvimento agrícola, o vector desenvolvimento urbano teve, pois, influência relevante na transformação do espaço rural.

Hoje em dia, é consensual afirmar que as relações urbano-rural assentam numa trama muito mais complexa que as simples trocas recíprocas entre cidades e aldeias do passado. As ligações urbano-rural estendem-se para além dos limites das trocas de sentido único e denotam um tecido complexo e dinâmico de interdependências que incutem o destino dos espaços urbanos, bem como dos espaços rurais. Com efeito, é conhecido o aumento do fluxo visível e invisível de pessoas, de capitais, de mercadorias, de informação e de tecnologia entre as zonas urbanas e as zonas rurais.

No território em questão, as relações urbano-rural estão associados aos processos de diversificação socio-económica e às inter conexões entre as diferentes funções localizadas na zona urbana ou rural. Estas tendências, quando não visíveis, podem ser avaliadas pelo estudo da oferta de serviços, que se proliferaram para além dos centros urbanos tradicionais, pela análise do fluxo de pessoas, do acesso à formação e ao conhecimento, da produção de bens materiais e imateriais e do uso dos equipamentos.

A produção estatística nestes âmbitos é ainda escassa para poder avaliar/confirmar com maior clareza científica a consumação de novas relações entre os espaços urbanos e rurais, mas o senso-comum é fértil em exemplos do género. Sabe-se, com efeito, que:

  • O desenvolvimento dos centros universitários de Vila Real ou Bragança trouxeram uma nova dinâmica nos fluxos entre pessoas e conhecimento, ao longo de uma área de influência que abarca áreas impensáveis de absorver, até há poucos anos;
  • As áreas de montanha do Parque Natural do Alvão e do Montesinho prestam uma nova tipologia de serviços de lazer e de fruição da natureza que atraem uma clientela fixa de turistas, maioritariamente urbanos;
  • Os pólos secundários deixaram há já muito de estarem confinados à prestação de serviços para as populações residentes locais;
  • A implementação de equipamentos e serviços estruturantes (centros comerciais, espaços de lazer e recreio, espaços culturais) tiveram um forte efeito no surgimento de fluxos provenientes de toda a região mas também de regiões vizinhas, criando novas relações entre os espaços urbanos e os espaços rurais;
  • A melhoria das redes de comunicação e das possibilidades de mobilidades tornou possível a muitas famílias fixar a sua residência num meio rural, embora estejam empregados no pólo comercial/industrial mais próximo, etc.

A par do que já se verifica noutras regiões da Europa, a tendência actual é a do aumento da dimensão dos pólos urbanos centrais ou secundários, que constituem cada vez mais uma alternativa de destino para os novos emigrantes dos espaços rurais, ainda que continuem a manter o contacto privilegiado com as suas origens, não apenas devido à melhoria das infra-estruturas físicas e da acessibilidade, mas também graças ao progresso das tecnologias de comunicação. De tal modo que hoje já se anuncia o tempo das cidades médias de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real, Bragança, Chaves, Lamego, Mirandela, entre outras), ao mesmo tempo que se assiste a um crescente estrangulamento do emprego e de condições de habitabilidade nas grandes metrópoles. A reflexão actual sobre estas condições está muito acesa, apontando para uma viragem a favor da organização polinucleada do território urbano, fortalecendo os centros urbanos de pequena e média dimensão como pólos incentivadores de inovação em face da mudança constante, de forma a garantir o desenvolvimento sustentável das áreas rurais e, ao mesmo tempo, reconstruir e preservar as especificidades urbanas.

Considerando que a diversificação das economias urbanas e a extensão das bacias de emprego têm vindo a aumentar, esperemos que com isso, a flexibilidade do mercado de trabalho e as oportunidades de vida no Interior, sobretudo para as populações locais, também tenham um novo impulso de forma a aumentar a sustentabilidade do interior, quer nos espaços urbanos quer nos espaços rurais, aproveitando as tecnologias como facilitadoras de “novas” possibilidades de localização e distribuição de actividades e população, bem como novas formas de criação de emprego e riqueza na região.

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